5 Exemplos de Poesia Concreta: Características da Poesia Visual
A poesia concreta é uma poesia visual. Como exemplos de poesias concretas, temos Pêndulo, de E.M. de Melo Castro; Lixo, de Augusto de Campos, entre outras que têm como características marcantes a concisão, o rigor e a precisão em versos curtos com o uso de diferentes recursos visuais através do emprego de fontes tipográficas, desenhos e formas com base no geometrismo e na liberdade.
O que é a poesia concreta?
Concreto remete àquilo que é real, palpável, o que pode ser percebido pelos sentidos. A poesia concreta não traz mais versos longos e discursivos. A construção visual traz palavras com grafia e fonética semelhantes que se repetem no texto, também utiliza ironia para criticar o consumismo e utiliza o espaço da folha para dispor letras e palavras de forma inovadora.
Características da poesia concreta
- Ausência do eu lírico;
- Oposição à arte abstrata;
- Geometrismo: preocupação com a forma da poesia e valorização de sua estética;
- Uso de diferentes fontes tipográficas, desenhos e formas;
- Exploração dos aspectos sonoros que são criados pelas palavras escolhidas, através de aliterações, assonâncias e paronomásias;
- Criação de novas palavras e uso de palavras já existentes com um novo significado atribuído às mesmas (neologismos);
- Temáticas universais;
- Simplicidade;
- Objetividade;
- Planejamento;
- Antinacionalismo;
- Antissentimentalismo;
- Não representação da natureza.
Exemplos de poesia concreta
1. Pêndulo, de E.M. de Melo e Castro
A poesia concreta Pêndulo, de Ernesto Manuel de Melo e Castro, grande autor português, traz o que chamamos de condensação poética, onde o conteúdo está amarrado à estrutura da poesia. Ela foi criada com apenas uma palavra, cujo significado conseguimos ver na forma como a mesma foi decomposta e arranjada, letra a letra, no papel, para simular o movimento do pêndulo.
2. Beba coca cola, de Décio Pignatari
Décio critica a sociedade de consumo ao criar a poesia concreta beba coca cola, que se tornou um dos poemas mais famosos do concretismo. A desconstrução da palavra coca-cola em meio ao uso de outras palavras com sonoridade semelhante, mas com significado pejorativo no contexto, deixam claro a crítica social e convidam o leitor a refletir.
3. Terra, de Décio Pignatari
Mais uma poesia concreta de Décio Pignatari onde ele utilizou a palavra terra para falar sobre um tema importante na época: a reforma agrária que se fazia necessária em nível nacional. Note que o poema foi construído na forma de um campo arado, uma terra que está sendo preparada para o plantio. A repetição das letras da palavra também forma novos vocábulos ao tema: ara, rara, errar e erra.
Na penúltima palavra que se forma, erraraterra, podemos extrair dois sentidos: “errar a terra”, no sentido de vagar pela terra sem ter onde morar, ou “é rara a terra”, no sentido de que a terra é rara para alguns, distribuída de forma desigual. Analise, se debruce sobre o poema para encontrar mais sentido.
4. Lixo, de Augusto de Campos
No poema, Augusto de Campos escreveu a palavra lixo com a repetição da palavra luxo, uma crítica social ao consumismo e valorização do status. O luxo gera lixo, há sempre lixo dentro do luxo, o lixo é, para muitos, um luxo, porque é apenas isso o que podem conseguir para sobreviver.
5. A desconstrução do verso, de Haroldo de Campos
Haroldo de Campos trouxe, através da poesia, não só a desconstrução visual dos versos, mas uma reflexão acerca do ciclo natural da vida com as palavras nasce e morre. É um poema-objeto simétrico que permite ao leitor mergulhar em uma construção própria e íntima sobre o seu significado.
Concretismo no Brasil
No Brasil, o Concretismo surgiu em meados dos anos 50. Em 1952, nascia a poesia concreta brasileira, com a publicação da revista Noigrandes. Augusto de Campos, Décio Pignatari, Ronaldo Azeredo, Ferreira Gullar e Wladimir Dias Pino criaram a primeira mostra de Poesia Concreta no Museu de Artes de São Paulo – MASP, cuja inauguração aconteceu em 4 de dezembro de 1956, quando foi lançado, oficialmente, o concretismo.
O movimento artístico e, ao mesmo tempo, corrente literária, surgiu em uma sociedade que via surgir novos avanços tecnológicos e encarava a realidade de maneira mais racional, tendo como grande impulsionador o presidente Juscelino Kubitschek (1902 – 1976), que levou o Brasil a enfrentar um crescimento urbano acelerado, além do consumo exagerado e do vazio existencial provocados pela chegada da TV e do cinema no país.